"Eu escrevo sem esperança de que o que eu escrevo altere qualquer coisa. Não altera em nada... Porque no fundo a gente não está querendo alterar as coisas. A gente está querendo desabrochar de um modo ou de outro"... (Clarice Lispector)

Quem sou eu

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Quem eu sou? Não sou! Estou sendo, buscando, fazendo, estreando, encerrando, errando, reiniciando, ressignificando, desejando sempre mais... Acontecências! Ato, letargia, movimento, inspiração ... Em busca das essências no baú das minhas quimeras existências! Acont-essências! Dentre tudo aquilo que me constitui, vou construindo minha identidade, sempre metamorfoseada, a partir de tudo o que me marca em minha totalidade, em nada redutível, enquanto pessoa, mulher, cidadã, psicóloga, professora, aspirante a escritora ... Enfim, enquanto gente face a tudo o que diz das minhas, das nossas vivências. Gente que gosta de gente e que está sempre às voltas com as vicissitudes do humano! Acont-essências!

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Boas-vindas!

Sejam todos bem-vindos a este despretensioso mundinho literário, um cantinho para a produção de sentidos face às nossas vivências humanas! (Ainda em construção)















Aconchego: para um bom papo, regado a um bom café, quiçá a um ótimo vinho

Aconchego: para um bom papo, regado a um bom café, quiçá a um ótimo vinho
"Não basta abrir as janelas para ver os campos e o rio.
Não é bastante não ser cego para ver as àrvores e as flores. Para ver as árvores e as flores é preciso também não ter filosofia nenhuma.
Procuro despir-me do que aprendi.
Procuro esquecer-me do modo de lembrar que me ensinaram,
E raspar a tinta com que me pintaram os sentidos,
Desencaixotar as minhas emoções verdadeiras, desembrulhar-me e ser eu...
O essencial é saber ver".
(Alberto Caeiro).



segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

O que os olhos vêem o coração sente

Você tem a liberdade de ir e vir! Disse-lhe ele, em tom de desapego, olhando-lhe, firmemente, com o seu belo par de olhos azuis. Tão confiantes quanto, seguramente, era a beleza daquele que os portavam. Um dia, ela foi e ele, durante um tempo, não lhe dirigiu a palavra. Teve uma congestão, ao engolir estas mesmas letrinhas.

Luciana Martins

Gato de marca


 Entrei, apressadamente, em uma pequena loja de aviamentos, no centro da cidade. Era uma loja antiga, tradicional, que, a julgar pela escassa mercadoria, bem como pela atmosfera que emanava do recinto, mais parecia um local de encontros e preservação de laços, para lá de significativos. Se tradicional, certamente, fora palco de muitas histórias e boas relações, oportunizando ricas vivências aos seus proprietários. Deparei-me, então, com eles, um casal de idosos, junto com uma outra senhora, os quais pareciam habitar em um outro mundo, sem essa correria que nos consome no di-a-dia. Ao me inserir naquela cena, quase invisível, guardei minha pressa no bolso e fiquei absorvendo-a, através do diálogo que se desenrolava:
- A minha gata deu cria, você vai querer outra? Disse a amiga-freguesa.
- Ah, não, não quero mais ter esses bichinhos, não. Depois que o meu morreu, quase morri, também. Não tinha ânimo pra nada, não queria comer, não dormia, ficava só na tristeza! Não quero outro no lugar dele, não. Respondeu-lhe.
O marido, com um suposto ar ausente, manteve-se em silêncio.
Diante da insistência da amiga, ela encerrou a prosa com o seu veredicto final, ao atribuir ao seu objeto de intensa estima uma qualidade diferenciada e importância derradeira, vindo a me atender, em seguida:
- O meu gato era de marca!
Um simples trocadilho? Não, ele não era apenas de raça!


Luciana Martins

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

Amor e dor

O tempo passa e eu não consigo  pensar em você sem sentir dor. Esta rima jamais a pressenti, não era cabível. E, talvez por isso, tal sentimento sempre me toma de assalto. Surpreendo-me, de modo infeliz.
(Luciana Martins)

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O bom do amor

Bento,
Suas palavras me soam como um afago ... Me trazem esperança, me fazem acreditar nas pessoas, na vida, no amor, enfim, no que há de melhor. Que homem maravilhoso você se tornou! Quanta lisura, sabedoria e sensibilidade! Eu te conheci nos seus 20 anos e já era visível a sua amabilidade, o seu cavalheirismo e companheirismo. Lembro-me do quanto você me passava segurança e confiabilidade. Havia mesmo algo em você de muito especial.

É reconfortante olhar para trás e ver a qualidade do que vivemos, daquilo que compõe a nossa história, pessoas e experiências fabulosas. Quando nos despedimos, há tantos anos atrás, em que você estava triste por estar assumindo um compromisso de casamento, com todos os convites para entregar dentro do seu carro, eu jamais imaginaria o quanto estaria presente no seu coração, de um modo tão significativo, por tanto tempo após aquele momento. No entanto, jamais eu poderia esquecer da expressão do seu olhar, perdido, em desalento, inconformado com o que a vida estava lhe proporcionando, sabendo que o seu desejo naquele momento era endereçado a mim. Mas, a vida tem dessas coisas, né ...

Mas, com toda a sinceridade do meu coração, faz-me imensamente feliz saber que você ressignificou tudo,  que apesar de ter ficado fechado por um tempo, inviabilizando a construção de uma vida de parceria com aquela que veio a estar ao seu lado, culpabilizando-a pelas interrupções e desvios, você tenha conseguido se implicar, se apropriar da vida em comum e construir uma relação de amor, verdadeiramente, e, desta forma, ser fundamentalmente feliz!

A sua experiência de vida, os seus aprendizados são muito ricos e você compartilhá-los comigo me enche de alegria, são mesmo muito inspiradores. Eu penso que a temática do amor é sempre central na dinâmica existencial de todos, e como a gente se atrapalha neste campo, né, o quanto nos exige e o quanto a gente, também, cresce! Mas, infelizmente, parece que o que tem predominado é o substantivo, o idealizado. Olhar para o outro em sua totalidade, com suas demandas, suas fragilidades e potencialidades, de um modo real, generoso, para além de si mesmo, parece ser um grande desafio ...

Ser feliz é o que importa ! E é muito bom saber que você construiu uma vida com assertividade e felicidade e que eu seja uma lembrança boa,  para além de tudo, que tenha ficado o bom do amor. Tudo de melhor, sempre!
Ana.

Feliz ano novo para o "mais íntimo e ausente amor"

Amor, amor de alma, amor pra sempre ...Amor que transcende o corpo, que deseja, que parece dormir, que assalta, se renova, que faz falta, que permanece, que existe por si só, que se acende na lembrança, na necessidade de compartilhar, de ganhar, um consolo, um porto, um colo quente, um afago, um olhar atento, terno, um riso solto, livre, aberto...

Amor, amor que evoluiu, se transformou, se aquietou. Resignou? Amor sereno, não morto, vivo, amor de alma ...

Para mim, é isso. Podemos nos amar, amar sempre ... simples assim, rico assim ... Vc faz muita falta e a saudade é tamanha, do tempo que estávamos mais próximos, que convivíamos, que podíamos contar um com o outro. Em meio a tanto silêncio, às vezes tenho o ímpeto de falar, mexer, de dar um sinal, de recebê-lo, ser acolhida, saber, te sentir mais perto, pelo mais sublime dos prazeres ...

Não entendo tudo, mas respeito, vou procurando respeitar sua distância, seu recolhimento, embora nunca tenha sido o meu desejo. Vc sempre está aqui. Sei que você não me esquece, como poderia, se o meu amor é de alma? Com todo o meu coração, te desejo um 2009 maravilhoso, surpreendente, envolvente, instigante, mobilizador, pleno, quente, de muitas realizações, feliz! Obrigada pelas felicitações.  Fique com Deus, muita paz e muita luz.
Beijos, Ana.

Natal: tempo de reflexão

Olá querida. Eu não estou nada bem, mas não vou te encher o saco com a minha lamúria. Estou péssimo mas vou tentando seguir da melhor maneira mesmo que sozinho nesse meu mundinho tão complicado e imperfeito. Sinto tanta falta das coisas simples. Recaí na minha tristeza. Meu Deus! De novo!
Não diria que tenho antipatia por datas festivas de grande comoção e pseudo reflexão como a que vivenciamos agora, isso seria inconcebível de minha parte, ou até mesmo arrogante. Mas desconfio que, buscando uma idéia justa para o que penso, elas não modificam o que tanto proporcionam. Estamos cada vez mais distantes de algo simples que até bem pouco tempo seria mais fácil de ser reconhecida, a nossa condição humana, que nos traz a capacidade de olhar o outro como tal, que por si já nos daria chance a uma pretensa igualdade. O que nos tornamos? Mais professores, mais advogados, mais funcionários públicos, mais militares, mais intelectuais, médicos, psicólogos, empresários... E onde está nossa condição humana? Esquecemos! Eu me incluo nisso. Esqueci porque em muitas de minhas desculpas trago como resposta: "não tenho tempo", "não é comigo", "foge as minhas convicções". Esse exercício, dentro de um labirinto, de busca pela minha, digamos, condição humana, encontrei um tempo e resolvi escrever para voce, para desejar um feliz natal e um ano cheio de realizações e aproveitando as reflexões, comuns nessa época de "promessas", gostaria de comunicar que sempre que posso estou por aí caminhando e quando dá, correndo, refletindo sobre tudo isso, quando desejar é só falar, aí sim exercitaremos mais uma possibilidade de nossa "condição humana". Conversar besteira, que é muito bom.
Beijos e abraços enlouquecidos.

domingo, 30 de outubro de 2011

O amor não é substantivo, é verbo!

"Dói sempre na gente, alguma vez, todo amor achável, que algum dia se desprezou..."

Ana, ver seu recado significou para mim alguma coisa parecida com as palavras do "Riobaldo" transcritas aí, desde que coloquemos o verbo "desprezar" entre aspas. Foi uma grande dor. Não consegui dormir bem de domingo para segunda. Tive poucas namoradas, mas sempre me relacionei com muita intensidade. Todas as minhas paixões tiveram início, meio e fim, foram ciclos que se fecharam. Exceto com você.

Acho que fiz a escolha correta (desde que se faça distinção entre certeza e correção). Quero compartilhar com você algumas coisas que aprendi nesses quase dezessete anos que nos separam (aliás, um poeta, conhecido meu, ao estudar os movimentos celulares, descobriu que "distância é o que liga e não o que separa" - lindo!).

A vida, de fato, tem dessas coisas, é cheia de acasos - que é o que você chama acima de 'encontro' ou que está amalgamado (com o perdão do neologismo) no verbo 'rolar'. O Guimarães Rosa diz assim: "A vida inventa! A gente principia as coisas, no não saber por que, e desde aí perde o poder de continuação - porque a vida é mutirão de todos, por todos remexida e temperada."

Esta sujeição às descontinuidades opera no sentido contrário de nossa mente, que é (ou tenta ser) lógica e ordenadora. Isto é um belo convite à loucura (não é preciso ler, necessariamente, o "Grande Sertão: Veredas" para entender que "todo mundo é louco".)

Bem... Mas o que quero dizer é sobre o amor. Hoje, caminhando para os quarenta anos, penso que o amor não seja um acaso... um encontro... e não depende de 'rolar'. O amor está na categoria do que você chamou de "movimento"... "processo", ou seja, ele é verbo e não substantivo. O amor substantivo é idealizado e só pode advir de alguma intervenção miraculosa. Como verbo sua construção depende apenas daquele que ama e nesse movimento os acasos (encontros/milagres) deixam de representar o fundamento e passam a ser apenas o colorido.

(Não quero fazer nenhum proselitismo religioso, mas é muito interessante a forma de São João se referir a Deus e a Jesus Cristo. Em algum ponto, não sei se no evangelho ou em uma de suas epístolas ele escreve que "Deus é amor". Na abertura de seu evangelho diz que "No princípio era o Verbo, o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus." Se fizermos a interseção entre estas duas passagens, e considerarmos a premissa do livro do Gênesis de que o homem foi criado à imagem e semelhança de Deus, temos então uma outra forma de compreender o amor como verbo e não como substantivo. Esta é uma maneira diferente de dizer as coisas que eu disse no parágrafo anterior. Mas obviamente, dependerá da fé.)

Olha! Não sei se ajudo ou se atrapalho com estas ponderações. Recorro de novo ao Guimarães Rosa: "O mal ou o bem, estão é em quem faz; não é no efeito que dão."

Eu temo que as pessoas estejam se perdendo no substantivo, como eu estive durante muito tempo. Um dia, minha mulher me disse que estava se separando de mim porque não me amava mais e que estaria indo morar no exterior. Foi um choque terrível. Fui morar sozinho e alguém me sugeriu que eu tocasse a vida em frente e que momentaneamente recorresse ao uso de anti-depressivos, já que eu estava em frangalhos emocionalmente. Não fiz nem uma coisa nem outra, mergulhei no processo com todas as minhas forças. Foi aí que descobri que minha mulher havia construído o amor como verbo, e eu, por culpá-la de haver interrompido o correr livre de minha vida, ainda estava em busca do substantivo.

Graças a Deus pude entender também que eu havia construído o verbo, mas que estava sonegando de mim, e dela, esta construção. Nesse momento nasceu o meu casamento e morreu a ilusão. Agradeço a Deus também a possibilidade de retomar a nossa vida conjunta. Poderia ter sido diferente e eu me culparia pelo resto da vida.

Enfim... É isto o que eu queria lhe dizer após fazer uma leitura integral (racional + emocional) do que você me conta no seu e-mail. Eu lhe quero muito bem e isto também é amor (aliás os gregos têm três metáforas para este nosso substantivo: 'eros', 'philos' e 'ágape'. Eu acho que são três construções distintas de um movimento semelhante, então verbo). Penso que a interatividade integral com estas três metáforas, ou melhor, o exercício (ou movimento) destes três verbos, seja o fundamento daquilo que chamamos de "espiritualidade". O resto é alegoria e adereços.
Grande abraço e tudo de bom!